domingo, 13 de julho de 2014

De volta ao tapete vermelho: uma olhada nas indicações aos Emmys 2014 (Parte I)

E recomeça o nosso ano (também conhecido como "Red Carpet Season rsrs). Na última quinta foram anunciadas as indicações ao Emmy, o maior prêmio da televisão. Pense na Academia dos Oscars, troque os filmes por séries e programas de TV, Angelina Jolie por Sofia Vergara e Harvey Wenstein pela HBO: pronto, você pensou nos Emmys...

Então, mão na massa! Vamos dar aquela olhada nas principais categorias da premiação. A lista completa de indicados para a 66ª edição  pode ser acessada em http://www.emmys.com/awards/nominees-winners/2014 . Vamos começar com os indicados a Melhor Série (Drama e Comédia) .:

Melhor série Drama

 É a série a ser batida este ano. Sua temporada final, a 5ª, foi considerada por vários veículos como a melhor temporada da história da TV. Viciante, vibrante, humana, os desvãos do ser de Walter White, o professor de química que se torna traficante de meta-anfetamina, foram responsáveis pelos momentos mais memoráveis da telinha (nem tão inha assim...TVS e celulares, ô bichos crescentes) no último ano. Prepare um drink game para a noite: a cada vez que alguém de BB ganhar, tome um shot de vodca. Vai ser uma noite alegrinha com certeza.

 Os ingleses marcam sua presença com a mais britânica das séries, sempre um prazer para os olhos, mas, principalmente, para os ouvidos. O texto de Julian Fellowes, o oscarizado roteirista de Assassinato em Gosford Park, é afiadíssimo. A quarta temporada não foi tão boa quanto as outras, mas, mesmo assim, é uma indicação merecida.


 Campeã de indicações no ano (19), a série da HBO dispensa comentários. Ela é responsável por levar o gênero fantasia a patamares inimagináveis em seus melhores momentos. A temporada mais recente manteve a qualidade das anteriores, elevando no quesito atuações, exigindo um trabalho muito mais complexo de seus atores. Visualmente falando, ela conseguiu o que parecia impossível: aumentar o deslumbramento de suas imagens. Ou , como bem resumiu um amigo: Sério, mamutes e gigantes. Supera isso.




O Netflix levou a TV para o computador e tem produzido programas ousados e muito bem escritos. Esta é uma daquelas séries "Deus, como é inteligente" e, apoiada num mais que inspirado Kevin Spacey, ficou melhor na última temporada. Drama político, questões humanas, poder e ambição.Programão.



Queridinha da crítica por muitas temporadas, essa série sobre os bastidores da propaganda nos anos 60 andou sumida nas últimas premiações. A atual temporada, sua despedida, parece reviver os bons momentos das anteriores. No entanto, é difícil que leve a estátua.

Merecidamente elogiada, True Detective foi um sopro de novidade no gênero policial. Há quem enxergou, inclusive, ecos de Twin Peaks, o clássico televisivo de David Lynch. Dúbia, ousada, inovadora, seu único pecado foi ter perdido um pouco do fôlego nos últimos episódios.


A Esnobada: The Good Wife

Ultraje, vergonha, humilhação.WTF, Emmy voters?!? Como deixaram de fora a única série de TV aberta que conseguiu, em sua 5ª (!) temporada se reinventar. Mais ainda: uma série de 22 episódios por temporada, cujo desafio de manter a qualidade é muito mais difícil que as outras indicadas, todas de canais a cabo e com temporadas com menos de 10 episódios. Bola muito, muito fora.



Melhor Série Comédia

Louie C.K. é hilário. Louie C.K é irônico. Louie C.K. te faz morrer de rir e ficar envergonhado por achar graça em alguns momentos tão politicamente incorretos. A série que leva o seu nome teve uma das temporadas mais engraçadas das comédias televisivas. Merecidíssima indicação.

 É a menina dos olhos dos votantes em todas as premiações. Já virou até um anticlímax ouvir o seu nome quando os envelopes são abertos. Neste ano, essa sensação seria aumentada: a comédia moderninha sobre as novas famílias não teve uma temporada muito inspirada.

E as presidiárias do Netflix conseguiram abocanhar 12 indicações. A indicação a melhor série de comédia veio carregada de controvérsia: apesar de contar com alguns momentos engraçados, muitos não a consideram uma "comédia" ipsis litteris. A inscrição na categoria soa mais como uma estratégia para conseguir indicações, já que concorrendo com as séries dramáticas ela não teria chance. Um furo em sua trajetória é a inconstância: ela não manteve durante toda sua temporada de estréia o mesmo nível em todos os episódios.

Surpresa deliciosa e merecida nas indicações. Essa série da HBO, sobre os geeks que fizeram do Vale do Silício a Meca da computação, exibe diálogos afiadíssimos, personagens carismáticas e humor de 1ª linha. Um crítico a definiu (com pitadas maciças de maldade) como "um Big bang Theory realmente engraçado".

Em sua sétima temporada, TBBT perdeu um pouco da força, o que se refletiu , inclusive, na audiência. Foi um ano bastante irregular, momentos de brilho se alternando com outros que, no máximo, arrancaram sorrisinhos de lado dos telespectadores. Não merece ganhar.

A Selina Meyer de Julia Louis-Dreyfus é provavelmente a personagem mais engraçada da TV. Já dissemos isso aqui no blog antes e repetimos agora: assista a um episódio de Veep e tente não rir. Missão impossível. A terceira temporada conseguiu elevar a qualidade e, acreditem, a tarefa era árdua.


As esnobadas: Parks & Recreation e The Mindy Project

Duas das séries mais engraçadas da atualidade, ambas capitaneadas por talentosíssimas atrizes (Amy Poehler e Mindy Kaling) foram solenemente ignoradas pelos votantes. Hello, Modern Family e TBBT (ou até mesmo Orange is the new black) poderiam ter cedido o lugar.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Dissecando os indicados: Melhor Diretor

Um veteraníssimo da indústria. Um queridinho da Academia. Um mestre em fazer filmes que tocam no que temos de mais humano. Um conseguiu levar emoção ao vácuo do espaço. E a História será feita se o primeiro negro levar esta categoria. Estes são os indicados a melhor diretor:

I. David O. Russel, por Trapaça
A Academia adora O. Russel. Contando com a indicação dupla neste ano (direção e roteiro original), esta é a quinta vez , em cinco anos e 3 filmes, que ele recebe esta honraria. Seu ponto forte é a direção de atores. Para que vocês tenham uma ideia, trabalhar com ele, para um ator, é quase uma garantia de ser indicado nas categorias de atuação. Vamos recapitular: O Vencedor (2010) - 4 atores com papéis destaque, 3 indicações, 2 vitórias (Melissa Leo e Christian Bale, como coadjuvantes); O Lado Bom da Vida (2012) - 4 atores, 4 indicações (em todas as categorias de atuação), 1 vitória (Jennifer Lawrence, atriz em paple principal). Com Trapaça ele repete o feito e consegue indicações para seus 4 atores nas 4 categorias. É interessante notar como ele tem trabalhado com o mesmo grupo de atores, o filme é uma mescla do elenco dos dois últimos. Um trabalho de direção interessante, que peca apenas por alguns excessos de overacting e de estilização .
Chance de levar a estátua:

II. Alfonso Cuarón, por Gravidade
Em sua primeira indicação na categoria (em anos anteriores, foi indicado pelo roteiro de E sua mãe também (2002) e pelo roteiro e edição de Filhos da esperança (2006)), Cuarón sai como favorito, tendo levado todos os prêmios que antecedem os Oscars, e, caso se confirme, será o primeiro mexicano a ganhar na categoria. Com Gravidade, ele atingiu uma realização grandiosa:técnica impecável, trazendo novas perspectivas para a indústria, e uma direção de atores que conseguiu trazer à tona o melhor de seu - pequeníssimo - elenco.Além, é claro, de ter produzido um dos filmes mais "gostáveis" dos últimos tempos.  A prova maior de sua competência seja, talvez, o fato da Academia ter prestado atenção em um gênero tradicionalmente esnobado nas premiações: a ficção científica.
Chance de levar a estátua:

III. Alexander Payne, por Nebraska
Falar de Alexander Payne, em sua sétima indicação e duas vezes vencedor do Oscar (pelos roteiros de Sideways e Os Descendentes), é falar de um dos diretores e roteiristas mais pessoais e marcantes da indústria. Seus filmes são pequenos, únicos e sempre trazem um olhar muito agudo e poético sobre os relacionamentos humanos e a sociedade. Em Eleição (1999), ele conseguiu transformar o processo eleitoral para um grêmio escolar em uma forte caricatura sobre o nosso tempo. Sideways - Entre umas e outras (2004), além de fazer com que todo mundo quisesse experimentar os vinhos da Califórnia, trouxe uma abordagem lírica sobre amizades e amores. Seu filme mais famoso, Os Descendentes (2011), é uma bela e cortante obra sobre amor, família e traição. Quem não se emociona com a cena de despedida entre George Clooney e sua esposa morta não tem coração. Nebraska se junta à lista de grandes realizações. Um filme que aborda a velhice com humor, delicadeza e respeito e uma direção que acumula escolhas bem feitas, a começar pela a da belíssima fotografia em preto e branco e do elenco matador.
Chance de levar a estátua:
IV. Steve McQueen, por 12 Anos de Escravidão  
O estreante em indicações entra na noite dos Oscars com duas delas (melhor direção e melhor filme). McQueen é um dos diretores mais completos de sua geração. Quem não viu Shame não sabe o que está perdendo. Seus filmes são viscerais, sensoriais, experiências cinematográficas contundentes. 12 Anos de Escravidão aumenta ainda mais o nível do seu trabalho. Com um tema fácil de se deixar levar por emoções exacerbadas, McQueen conduz o filme sem permitir que a pieguice tome conta hora nenhuma. Além disso, do ponto de vista técnico, ele cria uma narrativa visualmente estonteante, quer pela força das imagens, que pela singularidade de seus ângulos de câmera, uma de suas mais destacadas características. Belíssima realização. Caso leve o prêmio, fará história como o primeiro cineasta negro a levar a categoria.
Chance de levar a estátua:


V. Martin Scorsese, por O Lobo de Wall Street
Durante décadas, o nome de Martin Scorsese foi citado em matérias que apontavam as maiores injustiças da Academia ou artistas que incrivelmente nunca tinham levado um Oscar para casa. Um dos maiores diretores de todos os tempos, a injustiça foi desfeita quando, finalmente, Os Infiltrados lhe deu a primeira (e, até agora, única) vitória. Com O Lobo de Wall Street, Scorsese abocanha sua 12ª indicação. O filme é uma obra-prima no quesito direção. O ritmo, o tom farsesco, a direção de elenco, a câmera ágil, a inteligência de não deixar a história cair no maniqueísmo,  tudo reverbera a genialidade do dono das sobrancelhas mais famosas de Hollywood.
Chance de levar a estátua:

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Dissecando os indicados: Melhor Ator Coadjuvante

Um motorista de limusine estreando no cinema. Um galã e sua segunda indicação. Um comediante nem tão galã e suas duas indicações também. Um dos atores mais completos da atualidade e um rockstar, ambos indicados pela primeira vez. A categoria dos melhores atores coadjuvantes neste ano oferece um cardápio bem diversificado. Vamos a eles:

I. Barkhad Abdi, como Muse, em Capitão Phillips
Nascido na Somália, de onde sua família fugiu da Guerra Civil, Abdi chegou aos Estados Unidos aos 14 anos de idade. Sem nenhuma pretensão de se tornar ator, o motorista de limusine foi escalado para viver o líder dos piratas que atacam Tom Hanks em Capitão Phillips. Com falas em inglês e em somali, sua atuação foi elogiada pela profundidade e pelo olhar capaz de transmitir uma gama variadíssima de sentimentos ao mesmo tempo que, em certos momentos, se torna totalmente apavorante.Resta-nos torcer para que Hollywood desenvolva ainda mais seu potencial e que não faça dele o ator de um único papel.
Chance de levar a estátua:

II. Bradley Cooper, como Richie DeMaso, em Trapaça
Em sua segunda indicação (ano passado ele foi indicado na categoria de Melhor Ator, por O lado bom da vida), o galã ( para muita gente ele é conhecido como "o bonito de Se beber, não case) exercita uma outra faceta de seu ofício no papel do agente do FBI que obriga uma dupla de trapaceiros a entrar numa operação federal para desbaratar políticos corruptos. Tendo que lidar, entre outras coisas, com um ridículo penteado anos 70, sua atuação no longa é irregular, destacando-se os momentos nos quais ele contracena em dupla com Amy Adams e e as sequências finais, nas quais ele pôde exibir uma fragilidade que, curiosamente, é seu lado mais forte. 
Chance de levar a estátua:

III. Michael Fassbender, como Edwin Epps, em 12 anos de escravidão
Michael Fassbender é um daqueles nomes que nós ouviremos por muito tempo. Seus trabalhos são saudados com adjetivos que começam em "complexo", "profundo", e terminam em "magnífico", "genial". Quem assistiu a Shame compreende de que tipo de ator estamos falando aqui. Em 12 anos de escravidão, ele dá mais um passo além em uma carreira muito bem construída. Na pele de um obcecado e doentio senhor de escravos, Fassbender eleva o nível das artes cênicas de maneira indelével. Todo o seu corpo se entrega à tarefa de trazer a personagem à tona, numa performance que o aproxima de atores como Daniel Day-Lewis e o grande Marlon Brando.
Chance de levar a estátua:

IV. Jonah Hill, como Donnie Azoff, em O Lobo de Wall Street
Algumas pessoas questionaram (injustamente) esta segunda indicação de Hill na categoria (a primeira veio há dois em O homem que mudou o jogo). Atuações cômicas são frequentemente esnobadas pelas premiações. Ainda bem que , neste ano, a Academia reconheceu este trabalho. Como sócio de Leo DiCaprio no polêmico O Lobo de Wall Street, Hill explora várias camadas de interpretação, que vão desde o grotesco (a famosa - e muito bem inserida na narrativa- cena de masturbação) ao sensível ( os diálogos com DiCaprio pós-derrocada). O gordinho de Superbad provou que cresceu e apareceu mesmo como ator.
Chance de levar a estátua:

 V. Jared Leto, como Rayon, em Clube de Compras Dallas
Múltiplo, além de ator é também vocalista da banda 30 seconds to Mars, e camaleônico, é o tipo de ator que muda totalmente de um papel para o outro, Jared Leto recebe sua primeira indicação ao Oscar e se sagra favorito na disputa. Em Clube de Compras Dallas, ele é Rayon, um transsexual que encontra improváveis apoio e amizade no homofóbico personagem vivido por Mathew McConaughey. É uma atuação extremamente sensível e forte, emocional e bem elaborada. Sua transformação física é um trunfo na conquista de votos, a Academia adora este tipo de coisa. É a cereja de um bolo belamente construído de dentro para fora.
Chance de levar a estátua:

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dissecando os indicados: Melhor Atriz Coadjuvante

Com a proximidade da entrega dos Oscars, a ansiedade só aumenta e as bolsas de apostas e predições se multiplicam. Hoje damos início a uma sessão nova no blog: Dissecando os indicados. Vamos nos aprofundar nas categorias mais importantes e descobrir quais as chances, quem fez o que e por que esse e não aquele acabou sendo indicado. Começamos com uma das categorias que mais parecem indefinidas até agora: Melhor atriz coadjuvante. And the nominees are:

I. Sally Hawkins, como Ginger, em Blue Jasmine
A indicação de Hawkins foi recebida como uma agradável surpresa. Não que sua atuação fosse questionável, mas quem assistiu a Blue Jasmine sabe que a alma do filme está na performance impecável de Cate Blanchett. No entanto, Ginger, a irmã pé no chão da desvairada Jasmine e na casa da qual ela vai se abrigar, é um dos pontos de apoio do longa. Sally Hawkins cria uma personagem engraçada, sensível e, acima de tudo, humana. Um belo trabalho de uma atriz consciente.
Chance de levar a estátua: Na escala que vai de UMA (remota) a CINCO (quase certo) ESTATUETAS, Ms. Hawkins leva :


II. Jennifer Lawrence, como Rosalyn Rosenfeld, em Trapaça
A queridinha da América e vencedora do Oscar de melhor atriz no ano passado vem se afirmando como uma das atrizes mais versáteis da nova geração. Em Trapaça, sua atuação como a ciumenta e descompensada esposa do protagonista vivido por Christian Bale é a melhor das atuações do longa. A cena na qual ela canta Live and let die enquanto faxina é uma daquelas antológicas, destinadas a entrar em várias compilações ao longo dos anos.A seu favor na busca pelo homenzinho careca ela tem uma coleçãop de críticas positivas, o carisma que a Academia adora e sua vitória nos Globos de Ouro.
Chance de levar a estátua: 

III. Lupita Nyong'o, como Patsey, em 12 anos de escravidão
Nascida no México, criada no Quênia e educada nos Estados Unidos, esta recém-graduada da prestigiada Universidade de Yale recebe a primeira indicação ao Oscar na sua estréia no cinema. Sua atuação em 12 anos de escravidão, vivendo Patsey, a favorita e vítima das obsessões do seu dono ( Michael Fassbender, impecável), é um daqueles momentos que fazem história na sétima arte.Profunda, emocionante, complexa. A vitória no SAG, sindicato com o maior número de votantes na Academia, dá a ela uma ligeira vantagem sobre Jennifer Lawrence. Seu discurso perfeito na vitória, acreditem, pode fazer a diferença a seu favor.
Chance de levar a estátua:

IV. Julia Roberts, como Barbara Weston, em Álbum de Família
Uma atriz prova que é, no mínimo, corajosa, quando aceita co-protagonizar um filme dividindo a maior parte de suas cenas com a maior atriz de todas: Meryl Streep. E a eterna namoradinha da América deu conta do recado muitíssimo bem. Na pele da filha que retorna à casa da mãe megera em um momento de crise, além de ter que lidar com as ruínas da própria vida conjugal, Julia Roberts constrói uma das suas melhores atuações e ganha sua quarta indicação ao Oscar (lembrando que ela já tem um em casa, o de melhor atriz por Erin Brockovich ). Para se ter uma noção de como ela está bem no papel, ouvi de uma amiga uma pergunta cabal: "Quem está melhor, ela ou Meryl? Não consigo escolher.". Bravo, Dona Roberts.Fosse em outro ano, e ela teria altíssimas chances com essa performance.
Chance de levar a estátua:
 V. June Squibb, como Kate Grant, em Nebraska
Uma das lendas do Oscar diz que os prêmios de ator e atriz coadjuvante vão tradicionalmente para minorias. Assim, se você for negro, criança ou idoso, maiores as suas chances. Caso ganhe, June Squibb contribuirá para propagar essa história: aos 84 anos, ela se tornaria a atriz mais velha a receber a estatueta de coadjuvante. Em Nebraska, ela está muito bem no papel da falastrona esposa do protagonista (Bruce Dern, lenda viva de Hollywood). Com muita delicadeza e humor, Squibb pinta em sua Kate um importante retrato do amor na velhice. Além de engraçadíssimo em muitos momentos - sua cena falando da cunhada, morta em um acidente aos 19 anos, já nasce clássica "Ah, eu gostava da Rose mas, meu Deus, ela era uma puta."
Chance de levar a estátua:

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Crítica: O Lobo de Wall Street - Scorsese em sua melhor forma

Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é um corretor de ações que, através de um esquema de especulação ilícito, construiu um império para si e levou uma vida de luxo, excessos, drogas e mulheres, até cair em desgraça numa operação governamental que expôs as entranhas corruptas de Wall Street nos anos 90. É a história dessa figura singular e polêmica que Martin Scorsese leva às telas em seu O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street). O longa vem sendo apresentado como um dos mais polêmicos da temporada.
Scorsese talvez seja o maior cineasta norte-americano em atividade. O que o diferencia dos outros é não somente o talento demonstrado no ofício de diretor, mas também um profundo conhecimento do Cinema, tanto no âmbito do funcionamento da "máquina", quanto da História dessa arte. Logo, ele reconhece o caráter coletivo do trabalho cinematográfico e tira ótimo proveito disso. mais um trabalho estupendo de direção.
Este domínio da estrutura fica claro em O Lobo. O filme resulta da soma de trabalhos impecavelmente desempenhados que florescem uníssonos no resultado final. O roteiro indicado ao Oscar de Terence Winter, baseado em livro do próprio Belfort, dá a base sólida sobre a qual se estabelecerá a construção. Muito bem escrito, ágil, com tiradas inteligentes e bem humoradas que nunca caem no "barato" ou descuidado.
As atuações fornecem aprofundamento formidável nas personagens. Destaquemos as duas oscarizáveis: Leonardo DiCaprio e Jonah Hill. No papel de Donnie Azoff, braço-direito de Belfort, Hill monta uma performance bastante elaborada, hilária, sem cair no caricatural, risco grande nesse tipo de papel.Em sua quinta parceria com Scorsese, DiCaprio mostra mais uma vez porque é considerado um dos atores mais competentes de sua geração. é extremamente engenhosa a elaboração de seu Jordan. Em sintonia com a atmosfera cínica de Wall Street, ele constrói uma atuação que também é cínica. É como se, em um mundo de meias-verdades, ele também atuasse em um limbo, elaborando uma personagem que, embora baseada em história real, expusesse o caráter surreal que a vida pode tomar. Assim, o que nas mãos de outro intérprete poderia soar exagerado, "fake", em DiCaprio assume um forte tom metalinguístico, como se o personagem refletisse cinicamente sobre sua própria condição de personagem encarnado por um ator. 
Esse cinismo de Wall Street também é exuberantemente retratado na edição primorosa de Thelma Schoonmaker, veteraníssima parceira de Scorsese, injustamente não indicada ao Oscar neste ano. De todos os filmes do diretor, este tem a edição mais "estranha", mais fluida. Em entrevista na divulgação, Marty aborda o propósito desta edição, principalmente nas cenas de uso de drogas. O efeito é como se a edição se drogasse, a cena posterior desmentindo a anterior. Já as cenas de sobriedade se encaixam umas nas outras de forma tradicional. 
Alguns analistas viram no filme, em vez de condenação, um elogio ao tipo de vida levado por Belfort e acusaram o longa de possuir uma falha grave em seu ethos. Particularmente discordo dessa leitura. As possibilidades de expressão se ampliam enormemente quando o longa é visto sob o prisma do deboche. Vê-lo apenas como narrativa linear e sem subtextos é cair em dois riscos: o 1º é o risco de ser ingênuo. O 2º é fazer vista grossa à genialidade de um dos mais completos cineastas de todos os tempos. 
O Lobo de Wall Street já estreou no Brasil e está indicado a 5 Oscars. Veja o trailer abaixo.
    
     

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Zebra no prêmio dos produtores embola disputa por Oscar de melhor filme

E a corrida pelo Oscar de melhor filme fica muito mais emocionante nesta reta final! Ontem, um fato inédito na premiação do sindicato dos produtores (PGA) embolou ainda mais a disputa.
Vamos ao ocorrido. O Producers Guild Awards é considerado um dos maiores termômetros do Oscar. Por quê? Primeiro, é um sindicato grande, no qual muitos dos votantes também votam nos Oscars. E, segundo e importantíssimo: eles também usam a chamada "cédula preferencial", tal qual a Academia.
O que é isso? Desde que aumentou o número de vagas dos filmes em disputa, em 2009, passando de 5 para 10 o número de concorrentes, a Academia usa este tipo de cédula. Isso significa que o votante não indica apenas os filmes que gosta, ele os indica em uma ordem de preferência. Sendo assim, o vencedor do prêmio é o filme que for citado mais vezes na 1ª posição da cédula. Desde 2009, quem ganhou o PGA levou também o Oscar de melhor filme.
Outra coisa: desde 2009, não houve uma divisão entre os vencedores do PGA, do DGA (prêmio do sindicato dos diretores, a ser entregue no próximo sábado) e do Oscar. Quem ganhou o primeiro levou os outros dois .
Mas o que está diferente neste ano? Nos anos anteriores, nesta época, já havia um filme que era claramente o favorito a levar os prêmios. Em 2014 isto ainda não aconteceu. Três filmes dividem as premiações: 12 anos de escravidão, Gravidade e Trapaça. Nos Globos, deu 12 anos e Trapaça. No SAG, sindicato dos atores (o maior dos sindicatos e o que tem mais membros na Academia), o prêmio foi para Trapaça. E Gravidade é o favorito no DGA.
Logo, todos os analistas concordavam até ontem, com o seguinte: quem levasse o PGA, levaria o DGA e o Oscar de melhor filme. E então, eis que a zebra ocorre: o PGA declara que o melhor filme do ano é...um EMPATE!!! Pela primeira vez na história da premiação, dois filmes levaram a maior honra: Gravidade e 12 anos de escravidão ! O cenário volta a ficar completamente borrado. Será que o prêmio dos diretores vai nos apontar o vencedor? Ou a Academia vai dividir, dando melhor filme para um (provavelmente 12 anos) e diretor para o outro (Gravidade)? Ou a divisão favorecerá um terceiro (Trapaça)?
É, agora a coisa ficou interessante. Esperemos para ver. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Indicações ao Oscar: a sorte está lançada, menos para os esnobados.

Agora é oficial! Na manhã de hoje, a Academia lançou a sua lista de indicados para os Oscars 2014. A lista completa você pode encontrar em http://oscar.go.com/nominees. Agora, vamos conversar um pouco sobre as principais categorias, suas surpresas e, como não poderia deixar de ser, seus esnobados.

Melhor filme
A primeira coisa que se destaca aqui é que os 9 indicados são bons filmes, que vêm recebendo aplausos de todos os setores da crítica e do público. Para você ter uma ideia, o Metacritic, que é um site que faz um ranking de todas as críticas que um filme recebe numa escala que vai de 0-100 em críticas positivas, aponta que a média dos indicados atinge um impressionante 86.4, sendo 12 anos de escravidão (97%) e Gravidade (96%) os campeões em críticas positivas e O Lobo de Wall Street o que possui mais críticas negativas (atingindo, mesmo assim, 75% de críticas positivas). O grupo impressiona. Os mais indicados foram Trapaça e Gravidade (10), seguidos de perto por 12 anos de escravidão (9)
Surpresas - Não se pode dizer que tenham acontecido aqui , embora a indicação de Philomena fosse uma dúvida.
Esnobados - O choque da manhã foi a não-indicação de  Inside Llewyn Davis, dos irmãos Coen, veteranos em indicações, que acabou levando apenas duas indicações técnicas (fotografia e mixagem de som). O Mordomo da Casa Branca, de Lee Daniels, saiu sem nenhuma indicação, mostrando que a Academia não caiu no golpe sentimental. E todos sentiram falta da sensação indie do ano, o belíssimo Fruitvale Station

Melhor diretor
Nenhum dos indicados foi uma surpresa. Os cinco têm sido as figurinhas premiadas de todas as premiações da temporada. A briga tem pela vitória tem se dado entre a dupla McQueen (12 anos) e Cuáron (Gravidade). Aliás, se um do dois ganharem a História será feita: o primeiro negro a levar a categoria (McQueen) ou o primeiro mexicano (Cuáron).Mas não se esqueçam que a Academia ama David O. Russel. 

Melhor ator
Surpresa! A pergunta que não queria calar era: quatro vagas estão tomadas, quem vai conseguir a quinta? Christian Bale (Trapaça) ou Leo DiCaprio (O Lobo)? Os dois conseguiram, o que gerou a esnobada do queridinho de Hollywood Tom Hanks (Capitão Phillips) e da lenda viva Robert Redford (All is lost). Hanks, aliás, conseguiu esnobada dupla: seu retrato de Walt Disney em Walt nos bastidores de Mary Poppins (que diabo de título é esse? No original, Saving Mr. Banks) não conseguiu também sua indicação a ator coadjuvante.

Melhor atriz
Semelhante à disputa de ator, aqui a pergunta era: será que Amy Adams leva a indicação, tirando Meryl Streep da disputa? Amy conseguiu, mas a Academia ama Streep (e quem não?). Logo, sobrou para Emma Thompson (Walt nos blablablá...) o título de a esnobada da vez. Ms. Adams , aliás, pegou a maldição de Kate Winslet: esta é a quinta indicação dela, ainda sem vitória. Kate demorou seis, será que agora vai? Provavelmente não, a categoria é dada como certa para Cate Blanchett, em Blue Jasmine.

Melhor ator coadjuvante
Há dois anos, Jonah Hill foi indicado nesta categoria por um filme chamado O homem que mudou o jogo. Hoje, ele foi esse homem. Sua indicação em O lobo de Wall Street não vinha sendo cogitada por nenhum analista de premiações. Ele acabou tirando Daniel Brühl, de Rush, da corrida. Os demais indicados eram esperados e Jared Leto leva vantagem na disputa.

Mehor atriz coadjuvante
Sorry, Oprah...Embora as críticas ao Mordomo da Casa Branca tenham sido mornas, a atuação de Winfrey era uma unanimidade. Ela cedeu sua vaga para Sally Hawkins, excelente em Blue Jasmine. Mas a estatueta está sendo disputada mesmo entre a queridinha da América Jennifer Lawrence e a força da natureza Lupita Nyong'o.

Melhor roteiro
Uma surpresa e uma esnobada. A surpresa foi a indicação de Clube de Compras Dallas, na categoria de roteiro original. A esnobada foi para o roteiro de Gravidade.

Agora vamos às curiosidades dessas indicações, porque todo mundo gosta desses números estranhos, né?
  • Já ouviu falar num filme chamado Alone Yet Not Alone? Não? Nem eu, nem ninguém. Indicado a melhor canção, ele gerou um eco de What? na sala de imprensa. Pesquisando descobri que o filme se passa no século XVIII e conta a história de duas irmãs que contam apenas com sua fé para sobreviver nas lutas entre índios e fazendeiros. 
  • Aliás, a categoria de melhor canção deixou de fora astros pops: Taylor Swift e Lana del  Rey foram solenemente ignoradas.
  • Ainda em canção: se Bobby Lopez levar por Let it go, a música tema de Frozen, ele será a 12ª pessoa a se tornar um EGOT, sigla que indica os que ganharam todos os prêmios da indústria: o de TV (Emmy), da música (Grammy), cinema (Oscar) e teatro (Tony).
  • Meryl Streep é a mais indicada de todos os tempos em atuação (18 vezes). No entanto, ela ainda não é a atriz com mais Oscars. O título pertence a Katherine Hepburn (4). Meryl tem 3.
  • Jennifer Lawrence se tornou, aos 23, a atriz mais jovem a conseguir 3 indicações na carreira, quebrando o recorde de Teresa Wright, que tinha 24 na sua 3ª indicação. Caso Lawrence ganhe, ela se tornará a pessoa mais jovem a conseguir duas estatuetas em atuação.
  • Desde que os Oscars de animação foram dados, em 2002, essa é a segunda vez que a Pixar fica fora da disputa. A primeira foi com Carros 2 e agora eles não foram indicados por Universidade Monstro.
  • A produtora de Ela  e Trapaça,  Megan Ellison, é a primeira mulher e a terceira pessoa a conseguir emplacar 2 filmes nos indicados a melhor filme no mesmo ano.
  • Trapaça aliás, é o 15º filme a conseguir indicações nas quatro categorias de atuação. David O. Russel é o primeiro diretor a conseguir este feito em dois filmes: ano passado com O Lado Bom da Vida e este ano com Trapaça.Até hoje, nenhum filme conseguiu levar as quatro estatuetas.
  • O Lobo de Wall Street é o filme com mais palavrões a ser indicado a melhor filme. Só fuck é dito 569 vezes.
  • John Williams, o compositor da trilha de A menina que roubava livros, é a pessoa viva com mais indicações ao prêmio. Hoje ele recebeu sua 49ª.Ele só perde em indicações para Walt Disney, que amealhou 59.
E você, o que achou das indicações? Nas próximas semanas, discutiremos mais profundamente a corrida do ouro em cada categoria. Fiquem ligados.